terça-feira, 28 de setembro de 2010

Eleasar de Bento Rodrigues



Eleasar de Bento Rodrigues

Nascido numa família de (11) onze irmãos, Eleasar Rodrigues Sobrinho é o (7º) sétimo filho, cresce e vira homem, seu porte físico foge dos padrões nordestinos: alto, magro, branco e de olhos lindamente azuis. Casa-se e vive como sertanejo que é. Para manter esposa e filhos divide seu tempo entre o Feijão Bravo e a “Rebeira” e passa longos anos de sua vida nesse cenário de sol abrasador. Segue seus dias desbravando o sertão, roça cactos e mandacarus, rama de bezerro e jurubeba.Com mãos calejadas, constrói casas, cercas e barreiro, abre caminhos e veredas, planta com dificuldade e colhe mais parcamente ainda, cultiva roças de milho, feijão, macaxeira e doces cajus e em noites enluaradas faz mutirão em sua casa, e sob a luz de uma lamparina com vizinhos e amigos, ao redor de uma trouxa de feijão debulha o seu sustento e a prosa corre solta ao cheiro do café esfumaçante ecoado por largas gargalhas.
Na Rebeira se aventura com a cana-de-açúcar para fabricar melado e rapadura, mas também extrai a carnaúba e colhe ainda brancas flores de algodão. Para seus filhos melão e melancia, gergelim e outros afins. A vida corre feita o rio da passagem dos “Bentos’, ora cheio de verdes esperanças, ora vazio, desesperançoso e cinzento. Precisava fazer outros ofícios porque o roçado estava difícil e se aventurava pelo mundo dos negócios. Foi a São Paulo e comprou relógio para no nordeste vender, brinco, colar e pulseira “pra” moça ficar faceira e sua família crescer, bota bodega, mas bodega não dá, vira ambulante e também feirante, sai do doce das frutas e se aventura no doce mel das abelhas e com a labuta do mel se despede do pesado labor, porque o forte sertanejo é vítima como tantos outros do seu tempo do mal de chagas e adoece.
Um hiato na sua vida. Deixa para trás a família e se aventura em outras vidas. Com esposa e filhos grandes feridas, sentimentos diversos que perpassaram do abandono a indiferença e todos saem chagados. Mas o tempo é magistral, majestosamente sábio, é professor conselheiro e vimos todos que o homem é plausível de erros e com ele, o tempo, esse substantivo perfeito, entendemos, aceitamos e até o perdoamos, se é que essa tarefa cabe a nós reles mortais. O tempo vem, o tempo vai, e o homem de largas gargalhadas murchou feito a caatinga no verão de setembro e passa a viver recluso no seu mundo de sentimentos. Chegou um momento que meio sem escolhas, deixa seu torrão natal para viver em outras paragens e aí o coração já tão maltratado não suporta o farto fardo e cai e passa a viver seus últimos momentos num leito de hospital, acometido por uma rara doença de nome estranho “Síndrome de Stive Jhonson”, agoniza entre a morte e um fio de vida. Pela estranheza da sua doença, não faltava, em sua cabeceira, médicos de todas as especialidades: cardiologistas, urologistas, oftalmologistas e tantos outros. Foi acompanhado por suas filhas, visitado por irmãos, parentes, amigos e conhecidos que testemunharam o seu calvário físico e oscilou entre o delírio e linhas tênues de esperança de voltar a sua terra.
Entretanto, diante de tanta dor e sofrimento, se manteve calmo, resignado e para aqueles que o visitou, quando pode, tinha sempre uma palavra de conforto, pois estava preparado para os desígnios de Deus.
E ele, Eleasar, se foi, tranquilo e saiu de cena grandiosamente sereno, sem alardes e purpurina, assim como foi em vida.
Monsenhor Hipólito, 27 de fevereiro de 2010
Lusivalda (filha)

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